Arquidiocese de Braga cria serviço de acolhimento familiar

Entre as realidades contempladas encontra-se o caso dos divorciados em nova união civil.
A Arquidiocese de Braga apresentou hoje em conferência de imprensa os novos documentos que pretendem ajudar a revitalizar a Pastoral Familiar diocesana: a Carta Pastoral “Construir a Casa sobre a Rocha” e o “Documento Orientador da Pastoral Familiar”.

Rosa e Amândio Cruz, responsáveis pela coordenação da Pastoral Familiar, explicaram que o documento orientador vai ao encontro do Plano Pastoral que se encontra em curso e que já foi delineado tendo em conta a última Exortação Apostólica do Papa Francisco, “A Alegria do Amor” (AL).
“Esta é, por isso, uma oportunidade para reorganizar a Pastoral Familiar dando um novo impulso a aluguns objectivos que já se encontram a ser trabalhados nas comunidades cristãs”, adiantou o coordenador.
Não queremos uma pastoral que esteja apenas alicerçada em tradições. Não podemos fechar os olhos aos desafios e problemas que as famílias enfrentam nos dias de hoje. Queremos ser capazes de lhes dar respostas adequadas e, para isso, não podemos ter uma espécie de pastoral formatada.
D. Jorge Ortiga
A grande novidade do “Documento Orientador da Pastoral Familiar” é o “Serviço Arquidiocesano de Acolhimento e Apoio à Família”, uma valência que pretende “disponibilizar um acompanhamento integral e multidisciplinar” dos desafios e problemas que as famílias enfrentam, “com seriedade e sempre de forma fiel à doutrina da Igreja”, afirmou o Arcebispo Primaz, D. Jorge Ortiga.
Durante a primeira etapa do Serviço as famílias serão acolhidas e devidamente encaminhadas para as correctas áreas de actuação. É numa fase posterior que se processa o serviço de acompanhamento, com diversas áreas a serem contempladas.
Problemas como a violência doméstica, dependências, vida matrimonial e sexual, entre outros, contam com uma equipa constituída por um psicólogo, um psiquiatra e um médico.
Questões de foro espiritual — a situação dos divorciados “recasados” ou outras situações irregulares — têm o apoio de três sacerdotes jesuítas e de uma jurista em Direito Canónico e Civil, que atenderá nos Serviços Centrais às segundas e quintas-feiras, das 09h30 às 12h00 e das 14h00 às 16h30.
Sempre que necessário, as famílias serão encaminhadas para instituições que se associaram a esta iniciativa. Para já, o Serviço esta sediado em Braga, mas a Arquidiocese pondera o alargamento a outros arciprestados caso as necessidades assim o exijam.
Fotografia: Avelino Lima


Uma pastoral “aberta”

“Não queremos uma pastoral que esteja apenas alicerçada em tradições. Não podemos fechar os olhos aos desafios e problemas que as famílias enfrentam nos dias de hoje. Queremos ser capazes de lhes dar respostas adequadas e, para isso, não podemos ter uma espécie de pastoral formatada”, afirmou D. Jorge Ortiga.
Como exemplo, o Arcebispo indicou a preparação para o matrimónio e o acompanhamento dos casais nos primeiros anos de vida conjugal, duas situações que a “Alegria do Amor” já tinha apontado como merecedoras de especial atenção.
Na Carta Pastoral “Construir a Casa sobre a Rocha”, documento da autoria de D. Jorge Ortiga e aprovado por unanimidade em Conselho Presbiteral, há dois capítulos que se dedicam integralmente a estas duas temáticas.


Divorciados em nova união civil: discernimento e integração

Indo novamente ao encontro da Exortação Apostólica do Papa Francisco, a Carta Pastoral descreve também os critérios de orientação pastoral para a aplicação concreta do Capítulo VIII da Alegria do Amor, “Acompanhar, discernir e integrar a fragilidade”. O documento apresenta ainda um anexo com os elementos práticos necessários ao acompanhamento de pessoas divorciadas em nova união civil.
“A primeira ajuda a oferecer aos fiéis divorciados que vivem em nova união é o disponibilizar de um serviço de informação e aconselhamento para averiguar a existência de algum fundamento que possa introduzir a causa de declaração de nulidade do matrimónio no Tribunal Eclesiástico. Pretendemos agilizar o acesso ao Tribunal eliminando, entre outros aspectos, a ideia de que é um processo demasiado longo e caro”, adiantou o prelado.

Em relação aos custos deste tipo de processo, o Arcebispo esclareceu que, ao contrário do que tem sido veiculado por alguns órgãos de comunicação, o valor não ascende às “dezenas de mil euros”, podendo não chegar sequer aos dois mil. No entanto, e citando os “processos breves” instituídos pelo Papa Francisco, haverá quem não tenha que suportar custo algum.
“As pessoas que manifestamente não tiverem possibilidades económicas não deixarão de poder levar a cabo um processo destes. Não podemos ignorar a realidade de uma larga maioria das famílias, que sobrevive com ordenados mínimos. Nestes casos claro que a Arquidiocese irá suportar todos os custos”, esclareceu.
A 8 de Setembro de 2015 foi apresentada pelo Papa Francisco uma Carta Pastoral em forma de “Motu Proprio” sobre a reforma do processo canónico para as causas de declaração de nulidade do matrimónio no Código de Direito Canónico, “Mitis Iudex Dominus Iesus”. Nela o Pontífice institui os processos mais breves que, juntamente aos documentais actualmente em vigor, são “aplicados nos casos em que a acusada nulidade do matrimónio seja sustentada por argumentos particularmente evidentes”. No mesmo documento, o Papa apela às Conferências Episcopais que, “sem prejuízo da justa e digna retribuição dos operadores dos tribunais”, assegurem “a gratuidade dos processos”.
Nos casos em que o processo de nulidade matrimonial não seja uma opção, os casais em nova união civil que desejem “viver a fé cristã numa boa relação com Deus e com a Igreja” terão à disposição um itinerário de responsável discernimento pessoal e pastoral, o que deverá levar a uma maior integração na vida eclesial.
As pessoas que manifestamente não tiverem possibilidades económicas não deixarão de poder levar a cabo um processo destes. Não podemos ignorar a realidade de uma larga maioria das famílias, que sobrevive com ordenados mínimos. Nestes casos claro que a Arquidiocese irá suportar todos os custos.
D. Jorge Ortiga
A oração, o acompanhamento de um director espiritual, exercícios e actividades várias pautam este itinerário que visa a “procura da vontade de Deus” e pode levar vários meses, podendo resultar em diferentes respostas.
“Os casais têm de estar prontos, por exemplo, para aceitar que não existem respostas pré-concebidas nem metas previamente definidas. Se assim não fosse, nada haveria a discernir”, afirmou o Arcebispo.


O acesso aos sacramentos

Uma das consequências do processo de discernimento pessoal poderá ser o acesso aos sacramentos, algo que não está previamente garantido e que dependerá de várias etapas.
“Após diversas etapas e um percurso de alguns meses, caberá, em última instância, ao casal tomar a sua decisão diante de Deus. Ao director espiritual compete acompanhar o processo e assegurar que ele decorre com toda a normalidade. Como afirma o Papa Francisco, somos chamados a formar as consciências, não a pretender substituí-las”, sublinhou D. Jorge Ortiga.
Os novos documentos e todas as orientações dadas não são, assim, uma “autorização geral” para o acesso aos sacramentos da reconciliação e comunhão. O culminar do processo de discernimento poderá, por exemplo, resultar em outras formas de integração na vida da Igreja, como uma “maior presença na comunidade, participação em grupos de oração ou reflexão ou compromisso nos diversos serviços eclesiais”, como já havia adiantado a AL.
“Este itinerário de discernimento, feito de oração, revisão de vida e abertura à vontade de Deus, tem um propósito: valorizar a importância da consciência pessoal na vida dos cristãos e da Igreja. No itinerário de discernimento, a tarefa dos pastores não é a de pretender substituir-se à consciência das pessoas ou oferecer receitas simples, mas a de ajudá-las, com paciência, a iluminar e formar as suas consciências, para que possam tomar uma decisão sincera diante de Deus fazendo o que melhor podem”, concluiu o Arcebispo.



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