Ao encontro das famílias…

Há dias cruzei-me com um jovem pedinte e quando o questionei sobre a possibilidade de arranjar emprego e mudar de rumo, ele respondeu dizendo-me “vou continuar a ser pobre, falta-me o essencial… já não tenho família e a minha mãezinha já morreu…”.
Fiquei com estas palavras guardadas na minha memória e quando penso na minha família e em todas as outras famílias, o meu pensamento recai no significado de que, na realidade, a família é a nossa essência.
Praticamente todos nós nascemos numa família e nela, pelo exemplo de amor, de entrega, de doação, de educação e de vocação dos nossos pais, de forma única e insubstituível, cada um vive e experiencia um conjunto de relações que nos ajudam a crescer pessoalmente, socialmente e espiritualmente. A nossa família é a nossa escola de valores, de fé e sobretudo de amor. Podemos não ter a família perfeita, ou a ideal, mas, apesar das dificuldades, constrangimentos e provações, é a nossa família e é nela que nos sentimos queridos e cuidados, aprendemos a aceitar as diferenças e a amar. Na família todos somos impelidos a contribuir com as nossas limitações, as nossas diferenças e as nossas virtudes para o crescimento e o bem de cada um, de todos e de toda a família. Cada um dá o seu contributo para a fortificação e aperfeiçoamento do seio familiar e, ao mesmo tempo, para a sua humanização e a sua realização integral através da compreensão, do perdão, da aceitação, da tolerância, da solidariedade, da ternura, do respeito, da ajuda mútua, da partilha, da doação, do amor, e de tantos outros valores que nos enaltecem e nos permitem a união com e aos outros. Desta forma, criamos a nossa história familiar, a nossa memória, a nossa identidade, o nosso cunho pessoal, espiritual e familiar, o nosso futuro.
 Existem diversos tipos de família: nuclear ou simples, alargada ou extensa, reconstruída, combinada ou recombinada, monoparental, adotiva, hospedeira, comunitária, dentro das quais existem vários tipos de relações familiares afetivas, como são exemplo, as relações funcionais ou as disfuncionais, as de ternura e as de maior dor, as que amparam e as que não cuidam, as de responsabilidade e as de gratidão, as de presença e as de solidão, entre os diferentes membros da família. Cada família é como entende ser… cuidando de todos, de cada um, com atenção e delicadeza, criando relações familiares fortes e estáveis.
Considerando as famílias cristãs das nossas paróquias, que se idealizam e concretizam como exemplo e testemunho da felicidade e da beleza do amor alicerçado no matrimónio e nos valores do Evangelho, como sinal de esperança e como um verdadeiro dom de Deus, devemos olhar para cada uma delas com particular atenção e cuidar delas, como um bem precioso e delicado, como fazemos com a nossa família e no seu seio com cada um dos seus membros. Devemos criar momentos e espaços para celebrar e festejar a alegria da família, em comunidade, como será exemplo, a celebração da festa da Sagrada Família, neste domingo em diversas paróquias, onde se celebram as bodas matrimoniais de prata e de ouro de alguns casais que aceitaram partilhar o seu testemunho de vida como casal.
Mas, como a vida familiar não se compõe apenas pelo bom, pelo festivo e pelo belo, será útil e necessário, nas nossas comunidades, criar equipas ou grupos de apoio e ajuda às famílias que se deparam com maiores fragilidades, muitas dificuldades, diversas desorientações e, provavelmente, alguma desumanização. Também devemos estar atentos aos nossos idosos, aos nossos pais e aos nossos avós, que pela sua longevidade e experiência, são verdadeiro testemunho de vida e de Deus e que são, em alguns momentos, relegados e desemparados por nós. Que saibamos refletir e acolher o evangelho deste domingo e que, em Ana e Semião, consigamos ver, engrandecer e dignificar os nossos familiares idosos.
Neste tempo em que ainda vivemos o Natal e celebramos o dom da Família, seria bom, se cada família, para além de fazer caminho, de ser caminho e construir pontes para os seus filhos, fosse também capaz de construir pontes para que as famílias mais frágeis se atrevam a fazer novas travessias e descobrir novos rumos e novos sentidos para a sua vida familiar. Assim, seremos famílias de esperança e de testemunho.
Votos de bom ano para todos e para todas as famílias!

Ana e Adão

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