Via-sacra do mundo: A Paixão de Jesus no drama humano

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A via-sacra é meditação e oração sobre a Paixão de Jesus, mas também caminho de conversão para cada pessoa e para o mundo. Neste texto propomos vivê-la fazendo dialogar a subida ao Calvário com algumas notícias que nas últimas semanas têm habitado o quotidiano, sempre com o olhar voltado para a luz da vigília pascal e da ressurreição.


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I Estação: Jesus condenado à morte
- Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
- Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo.

«Aos que me batiam apresentei as espáduas, e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me ultrajavam e cuspiam» (Isaías 50, 6).
Na 34.ª sessão do Conselho das Nações Unidas reunido em Genebra a 22 de março, a Cáritas Internacional denunciou a escalada dos combates em redor de Avdiivka, a norte da cidade de Donetsk, na Ucrânia. O uso de armas pesadas e o número de violações do cessar-fogo aumentou desde janeiro e pode comprometer a precária situação humanitária. Há mais de 1,7 milhões de deslocados internos, enquanto um milhão fugiu para países vizinhos. Quem não tem capacidade física ou meios financeiros para fugir vivem no extremo: faltam água e alimentos, medicamentos e assistência médica, muitas vezes até um alojamento com aquecimento adequado. Pelo menos 700 mil crianças precisam de assistência para salvarem as suas vidas.
Senhor, é um triste boletim de guerra, um rosário doloroso aquele que as notícias nos reservam quase diariamente, ao ponto que por vezes arriscamo-nos a deixá-las cair na indiferença.
Abre os nossos olhos e o nosso coração aos problemas das famílias que têm a vida em risco e ajuda-nos a envolver a nossa comunidade, tornando-nos a voz de quem já não tem voz.
Mantém-nos vigilantes para que nos possamos comprometer pela promoção da paz, e não nos tornarmos cúmplices de tantas condenações à morte.

Pai nosso...

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II Estação: Jesus é carregado com a cruz
- Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
- Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo.

«Subindo ao madeiro, Jesus levou os nossos pecados no seu corpo, para que, mortos para o pecado, vivamos para a justiça: pelas suas feridas, fostes curados. Na verdade, éreis como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes ao Pastor e Guarda das vossas almas» (Primeira Carta de São Pedro 2, 24-25).
F. tinha 15 anos quando ficou doente. Parecia que eram apenas tonturas, que contudo voltaram a aparecer. É levada para a urgência. O diagnóstico é rápido: glioblastoma no cérebro. Um golpe duríssimo para ela e para os seus pais. Filha única, habituada a mover-se livremente. F. desconhecia a gravidade da sua doença, esperava voltar à escola com os seus amigos. Nunca se lamentava, fazia projetos.
Apesar de os tratamentos oncológicos lhe tiraram aos poucos as forças e o seu aspeto se modificasse, estava serena. E assim foi até ao fim. Morreu poucos meses depois na cama de sua casa, com o pai e a mãe próximos, provados duramente pela dor e pelo sofrimento.

Jesus, ajuda-nos a saber enfrentar as provações da vida mesmo quando não as compreendemos e a dor nos parece insuportável.
Ajuda-nos a saber confiar no teu projeto sobre nós, mesmo quando não o entendemos e demasiadas nuvens escuras nos impedem de olhar o Céu.

Pai nosso...

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III Estação: Jesus cai pela primeira vez
- Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
- Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo.

«Desprezado e abandonado pelos homens, como alguém cheio de dores, habituado ao sofrimento, diante do qual se tapa o rosto, menosprezado e desconsiderado. Na verdade, ele tomou sobre si as nossas doenças, carregou as nossas dores. Nós o reputávamos como um leproso, ferido por Deus e humilhado» (Isaías 53, 3-4).
Novas ameaças chegaram, nos últimos dias, ao padre mexicano Alejandro Solalinde, que se bate pelos migrantes à mercê dos traficantes de seres humanos. Precisamente nos dias em que outro sacerdote mexicano foi morto (último de uma longa lista), ao padre Solalinde foi entregue, pela internet, um filme em que se vê o seu nome escrito numa folha de papel, acompanhado por um terço e sete balas. "Os narcotraficantes querem-me morto", é um título do livro em que conta a sua experiência: a história de um homem que sabe o quanto pesa a cruz. Um homem que fez a opção de estar do lado dos últimos, consciente de que isso pode custar-lhe ser marginalizado, tornado vulnerável, alvo de ameaças.
Senhor, Tu que percorreste em primeiro lugar o caminho da cruz, faz sentir a tua presença, hoje mais do que nunca, aos muitos homens e mulheres que fizeram a escolha de estar junto a quem é considerado lixo do mundo.
Faz sentir a tua proximidade a quantos, apesar de amarem profundamente a vida, se viram colocados em situações em que podem sofrer acusações, ameaças, talvez mesmo por tua causa.
Não permitas que os devore o hálito gélido da solidão, que as suas entranhas se tornem presa da angústia.
Fica com eles, torna-te presente, aquece o seu coração.
Só assim o peso da cruz será um jugo leve.

Pai nosso...

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IV Estação: Jesus encontra a Mãe
- Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
- Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo.

«Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: “Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; uma espada trespassará a tua alma» (Lucas 2, 34-35).
Muitas foram as crianças que estiveram entre as vítimas do ataque com armas químicas que ocorreu na terça-feira contra Khan Sheikhoun, na provínvia de Idlib, na Síria, uma terra que deixou de conhecer o significado da palavra paz.
Senhor, são de novo os mais pequeninos, esses filhos que confiaste ao cuidado dos seus pais para que os protegessem e acompanhassem na vida, a sofrer as consequências do egoísmo e da crueldade humana.
Ajuda-nos a encontrar as palavras e os gestos da indignação para fazer com que a comunidade internacional possa encontrar um caminho para fazer cessar a tragédia.
Apoia todas as famílias que perderam as suas pessoas queridas e dá-lhes a tua paz.

Pai nosso...

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V Estação: Simão de Cirene ajuda Jesus a levar a Cruz
- Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
- Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo.

«Para lhe levar a cruz, requisitaram um homem que passava por ali ao regressar dos campos, um tal Simão de Cirene, pai de Alexandre e de Rufo» (Mateus 15, 21).
Com quantos condenados à morte entramos em contacto, a cada dia, «ao regressar dos campos»? Talvez nenhum. Ou talvez dezenas, centenas, milhares. São os migrantes que, chegados à última da sua via-sacra pessoal, ao longo do trajeto que os deveria conduzir à ressurreição, são condenados à morte pelo naufrágio do bote, por uma avaria no motor poucos minutos depois de terem deixado as costas líbias. Vemos os seus rostos afogarem-se nos ecrãs que, à espera do metro, esmagam aqueles corpos inermes entre a publicidade de um novo perfume e a de um novo programa de talentos, entre uma notícia de mexericos e outra de política aos gritos. Que tenho eu a ver, de regresso do trabalho, com aqueles condenados à morte? Alguma culpa devo também ter.
Senhor Jesus, quantas vezes nos comportamos como Caim. Quantas vezes não te reconhecemos no irmão que sentimos longínquo, indigno, inferior.
Perdoa a nossa cegueira e dá-nos olhos novos para te ver por trás daqueles olhos, debaixo daquela pele afastamos de cima com desconforto, que vemos como ameaça.

Pai nosso...

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VI Estação: A Verónica limpa o rosto de Jesus
- Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
- Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo.

«O meu coração murmura por Ti, os meus olhos Te procuram; é a tua face que eu procuro, Senhor. Não desvies de mim o teu rosto, nem afastes, com ira, o teu servo. Tu és o meu amparo: não me rejeites nem abandones, ó Deus, meu Salvador» (Salmo 27, 8-9).
Durante a visita a Milão, um jovem transexual, condenado por homicídio cruel, pediu ao papa permissão para o abraçar. «Nem sequer me deixou acabar a frase e abraçou-me ele», contou. Contra outro transexual: «Disse-lhe: "Olá, Francisco! Tu és a nossa última esperança". Riu-se e respondeu-me: "Farei o melhor que puder". Não sou católica, sou budista. Mas admiro muito o papa. Ninguém se interessa por nós. Políticos e opinião pública estão sempre prontos para nos julgar. Ele não. E demonstrou-o, vindo até nós».
Não tinhas, certamente, um aspeto belo, Senhor, quando a Verónica se cruzou contigo, ao longo da "via crucis".
Os olhos intumescidos, as gotas de sangue que caem da coroa de espinhos sobre a fronte e sobre a face, a boca deformada num grito mudo, o corpo devastado pela pancada e pelas quedas.
Ela, porém, não hesitou em te reconhecer, em ir ao teu encontro, não se importando com o que as pessoas diziam. Não perdeu tempo. Bastava-lhe uma carícia para te dizer que não estavas só.
Senhor, dá-nos olhos límpidos para reconhecer as pessoas que, à nossa volta, a cada dia se dobram sobre as nossas feridas com uma palavra boa, um gesto de delicadeza, um sorriso simples mas que aquece o coração.

Pai nosso...

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VII Estação: A Verónica limpa o rosto de Jesus
- Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
- Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo.

«Rodearam-me (...). Cercaram-me como um enxame de vespas, a sua fúria crepitava como fogo entre espinhos, mas eu aniquilei-os em nome do Senhor. Empurraram-me com violência para eu cair, mas o Senhor veio em meu auxílio. (...) O Senhor castigou-me com dureza, mas não me deixou morrer» (Salmo 117, 11.12-13.18).
A doença de Alzheimer tem uma incidência de 1 a 2% entre os 65 e 75 anos, mas sobe para os 50% acima dos 85. Contam-se hoje no mundo 35,6 milhões de pessoas afetadas pela demência. Uma estimativa prudente da Organização Mundial de Saúde para 2030 prevê 65,7 milhões, que ascendem a 115,4 milhões em 2050. A pesquisa orienta-se para o desenvolvimento de novos medicamentos, o diagnóstico precoce e a terapia genética, o uso de células estaminais, mas até lá chegar os tempos preveem-se longos, e entretanto são as famílias, e ainda mais nos países pobres, a ajudar Cristo a levar a sua cruz.
Senhor, perdoa-nos, mas por vezes, à noite, o cansaço arrisca-se a fazer-nos esquecer que a tua mão está sempre pronta a apoiar-nos.
É angustiante assistir impotentes ao lento colapso dos nossos queridos. É duro não saber responder aos nossos filhos que perguntam o que é que aconteceu ao avô, que já não os reconhece.
Ajuda-nos a fazer o que está nas nossas mãos, ajuda cada um de nós a nunca abandonar a esperança.

Pai nosso...

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VIII Estação: Jesus encontra as mulheres de Jerusalém
- Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
- Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo.

«Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim, chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos» (Lucas 23, 28).
A violência doméstica aumentou quase 2% em 2016 face ao ano anterior, com 27.291 ocorrências que envolvem mais de 32 mil vítimas em Portugal. Ao mesmo tempo continua a aumentar a agressividade nos relacionamentos entre adolescentes: a PSP recebeu, o ano passado, 1787 denúncias de violência no namoro. Em Portugal e no mundo, milhões de mulheres são vítimas do tráfico, exploração, prostituição.
Choremos por aqueles homens que descarregam sobre as mulheres a violência que têm dentro. Choremos pelas mulheres escravizadas pelo medo e a exploração.
Mas, não basta bater no peito e sentir comiseração. Jesus é mais exigente. As mulheres devem ser tranquilizadas como Ele fez, devem ser amadas como um dom inviolável para toda a humanidade. Para o crescimento dos nossos filhos, em dignidade e esperança.
Senhor Jesus, detém a mão de quem espanca as mulheres!
Levanta o coração delas do abismo do desespero quando se tornam presa de violência. Visita o seu choro, quando se encontram sozinhas.
E abre o nosso coração à partilha de cada dor, com sinceridade e fidelidade, ultrapassando a compaixão natural, para nos tornarmos instrumentos de verdadeira libertação.

Pai nosso...

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IX Estação: Jesus cai pela terceira vez
- Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
- Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo.

«Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? (…) Mas em tudo isso saímos mais do que vencedores, graças Àquele que nos amou» (Romanos 8, 35.37).
Um relatório da organização Oxfam denuncia a grave crise humanitária da faixa de Gaza (quase dois milhões de habitantes) devido à escassez de água potável dessalinizada e a falta de acesso ao saneamento básico da maior parte das famílias. O problema do acesso à água foi denunciado mais uma vez por organismos humanitários por ocasião do Dia Mundial, a 22 de março. Depois do Sudão do Sul, também na Somália e na região norte ocidental da Nigéria foi declarado o estado de carestia, mas a crise atinge também o Corno de África e outras zonas da África oriental e meridional.
Ao mesmo tempo, noutras regiões do planeta, como em Mocoa, na Colômbia, na faixa costeira do Peru ou nas Filipinas, chove e cheias ajoelham as populações e as vítimas contam-se às centenas.

Senhor, sabemos que já não chegam as ajudas humanitárias, não basta a moeda que damos com a intenção de ter realizado um gesto bom. É preciso muito mais. É necessário envidar esforços para eliminar as causas dos conflitos, das alterações climáticas e da degradação ambiental, das políticas económicas em favor das multinacionais e contra os pequenos agricultores das comunidades rurais.
Pai nosso...

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X Estação: Jesus é despojado das vestes
- Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
- Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo.

«Os soldados, depois de terem crucificado Jesus, pegaram na roupa d’Ele e fizeram quatro partes, uma para cada soldado, excepto a túnica. A túnica, toda tecida de uma só peça de alto a baixo, não tinha costuras. Então os soldados disseram uns aos outros: “Não a rasguemos; tiremo-la à sorte, para ver a quem tocará”. Assim se cumpriu a Escritura que diz: Repartiram entre eles as minhas vestes e sobre a minha túnica lançaram sortes”. E foi isto o que fizeram os soldados» (João 19, 23-24).
No início da tua Paixão tinhas-nos advertido, Senhor. Mas nós continuamos a não te ouvir. Vivemos um tempo marcado por guerras sanguinárias em muitas regiões do mundo, mas a única resposta que conseguimos dar é produzir e vender cada vez mais armas. Recentemente o presidente americano Donald Trump anunciou a intenção de aumentar o orçamento do Ministério da Defesa, com um aumento de 10% daquela que era já hoje a mais importante despesa em armamento no mundo. Uma dotação à custa dos fundos destinados à cooperação para o desenvolvimento. Mas também olhamos para outros países: Rússia, China, Índia, Arábia Saudita, nações do Golfo Pérsico... Nestes anos reforçaram os seus arsenais. Sem esquecer Portugal.
Senhor Jesus,
perdoa-nos pela dureza do nosso coração,
que se ilude por poder construir
com o fogo de armas cada vez mais destrutivas
a nossa segurança.
Ajuda-nos a compreender
que a verdadeira defesa
é a do egoísmo que envenena o nosso coração.
E que a única verdadeira segurança
é a do abraço do Pai misericordioso,
que faz surgir o sol sobre maus e sobre bons,
e faz chover sobre justos e sobre injustos.

Pai nosso...

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XI Estação: Jesus é pregado na cruz
- Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
- Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo.

«Depois, crucificaram-no e repartiram entre si as suas vestes, tirando-as à sorte, para ver o que cabia a cada um. Eram umas nove horas da manhã, quando o crucificaram. Na inscrição com a condenação, lia-se: “O rei dos judeus”. Com Ele crucificaram dois ladrões, um à sua direita e o outro à sua esquerda. Deste modo, cumpriu-se a passagem da Escritura que diz: Foi contado entre os malfeitores» (Marcos 15, 24-28).
Seis pessoas morreram, possivelmente oito, na explosão de uma pirotecnia em Lamego. «Que a força da nossa oração e comunhão seja, nestas circunstâncias, bem visível e por todos sentida», escreveu o bispo diocesano, D. António Couto, que visitou os familiares das vítimas.
Senhor Jesus,
perante a morte atroz,
perante a morte inocente...
perante a morte, permanecemos em silêncio.
O silêncio de quem se pergunta pelo sentido,
mas sabe que é inútil.
Mas a morte é fecunda,
se atravessada pela tua Salvação.

Pai nosso...

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XII Estação: Jesus morre na cruz
- Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
- Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo.

«Depois disso, Jesus, sabendo que tudo se consumara, para se cumprir totalmente a Escritura, disse: “Tenho sede!” Havia ali uma vasilha cheia de vinagre. Então, ensopando no vinagre uma esponja fixada num ramo de hissopo, chegaram-lha à boca. Quando tomou o vinagre, Jesus disse: “Tudo está consumado”. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito» (João 19, 28-30).
Voltou a morrer no deserto através do qual - pouco tempo depois de nascer - Maria e José o tinham levado para fugir aos soldados de Herodes. Voltou a morrer em Al-Arish, no norte do Sinai, Jesus, nestas últimas semanas. Novamente crucificado nas perseguições contra os cristãos conduzidas por jihadistas afiliados ao Estado Islâmico. Desde 30 de janeiro são já sete os que foram mortos pelos homens de bandeiras negras. Um comerciante, um professor, um farmacêutico - cristãos comuns. Mortos um de cada vez simplesmente pelo simples facto de serem cristãos. E impeliram à fuga do Sinai centenas de famílias cristãs amedrontadas, como em Raqqa e Mossul. É uma morte oculta a dos coptas de Al-Arish: sem o rumor ensurdecedor de um atentado, mal fez notícia. Cruzes de periferia, no mundo de hoje.
Senhor Jesus, em quantos cantos esquecidos do mundo Tu morres juntamente com tantos nossos irmãos.
Acolhe-os contigo no teu Reino e muda o coração dos seus perseguidores, para que depressa possa surgir verdadeiramente a aurora nova da reconciliação.

Pai nosso...

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XIII Estação: Jesus é descido da cruz
- Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
- Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo.

«Um membro do Conselho, chamado José, homem reto e justo, não tinha concordado com a decisão nem com o procedimento dos outros. Era natural de Arimateia, cidade da Judeia, e esperava o Reino de Deus. Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Descendo-o da cruz, envolveu-o num lençol» (Lucas 23, 50-53).
Por ocasião do Dia Internacional da Síndrome de Down, um vídeo conquistou a internet: os protagonistas, todos com a doença, sustentam (com uma boa dose de auto-ironia) que não são pessoas com «necessidades especiais», mas precisam apenas de «estudar, trabalhar, ter oportunidades, amigos e um pouco de amor». Espoliada de preconceitos, o que permanece é a dignidade intocável da pessoa.
Senhor Jesus,
a veste brilhante do Tabor lacerou-se no Calvário,
o teu corpo fulgurante na Transfiguração exauriu-se de dor.
Mas entre os dois momentos, Tu, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, és a imagem perfeita de Deus.
Tende piedade, Senhor, de todas as "vestes", as etiquetas, os preconceitos nos quais pretendemos aprisionar os nossos irmãos, estabelecendo se são dignos de nascer ou não, se podem fazer certas coisas ou não, se serão um "peso" ou um "dom" para nós.
Ajuda-nos a ver, em cada ser humano, a imagem de Deus; em cada pessoa, uma riqueza única e insubstituível.

Pai nosso...

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XIV Estação: Jesus é depositado no sepulcro
- Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
- Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo.

«No sítio em que Ele tinha sido crucificado havia um jardim e, no jardim, um túmulo novo, onde ainda ninguém tinha sido sepultado. (…) Foi ali que puseram Jesus» (João 19, 41-42).
Josef Mayr-Nusser, proclamado beato a 18 de março, assinou a sua condenação quando colocou por escrito o seu não a Hitler. Diante do pelotão das SS teve a coragem de não jurar fidelidade ao "Führer" «por motivos religiosos e políticos». A sua consciência, formada na Ação Católica e na Conferência de S. Vicente de Paulo de Bolzano, Itália, impeliu-o a não evitar o campo de concentração. Morre aos 34 anos no vagão que o levava a Dachau, deixando a amada mulher Hildegard e o pequeno filho Albert, que hoje diz: «A condenação aceite pelo meu pai é um testemunho para muitos jovens».
Contracorrente, andar em sentido contrário, perceber que é preciso entender e agir diferente.
Quem tem a coragem?
Tu, o Cristo, és o único Mestre, o único guia que quero seguir.
O teu poder é o amor, inclusive do inimigo, a tua força é o perdão.

Pai nosso...

Patrizia e Antonio Geminiani, Maria Teresa, Francesco Pederiva, Gerolamo Fazzini, Elisa Bertoli, Clara Bertoglio, Giorgio Bernardelli, D. Giancarlo Maria Bregantini
Fontes: VinoNuovo, Vaticano
Trad., edição, adaptação: SNPC
Publicado em 07.04.2017

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