XII Jornada da Família - "Não há famílias perfeitas"

A missão da Igreja é formar consciências e não substituí-las.

A família como lugar da experiência do infinito. Foi com esta mensagem que o Dr. Juan Ambrosio começou a XII Jornada da Família, sobre o tema “Não há famílias perfeitas”. Moderado pela Dr.ª Sofia Fernandes, vereadora da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão com o Pelouro da Família, desde o início se percebeu como o orador colocou todo o seu enfâse no valor família, afirmando que a mesma não está em crise. O seu otimismo e visão positiva da realidade, amada por Deus tal qual é, levou-o a afirmar que o objectivo da pastoral família é promover toda a família, mesmo aquela que não é cristã. Sendo a família um dom e uma tarefa, um compromisso corresponsável, ela assume uma responsabilidade na vida das comunidades, e deve ser vista como sujeito da ação pastoral e não como objecto.

A reflexão do Prof. Juan Ambrosio incidiu no projecto que o Papa Francisco tem vindo a desenvolver não só na sua ação pastoral mas sobretudo também a partir do que escreve. O papa sonha com uma Igreja renovada (Evangelium Gaudium) para comunicar uma só e única coisa: a alegria do Evangelho.  Esta Igreja renovada será capaz de cuidar da casa comum (Laudato Sii), de construir um espaço que possa ser habitado por todos, sem excluídos nem marginalizados, descartados... Para isso, a Igreja não pode olhar o mundo se não com misericórdia (Misericordia vultos), com amor de entranhas... Este amor aprende-se na Família (Amoris laetitia). Por isso, a família não é um problema mas sim uma oportunidade. Desta forma, o Papa sublinha o horizonte para o qual caminhamos: da imperfeição para a perfeição. Pois nenhum casamento começa perfeito, mas vai caminhando lenta e progressivamente para a perfeição, a qual se alcança apenas em Deus. Esta consciência sublinha a importância de se fazer caminho em conjunto, uns com os outros. Assim se percebe que o horizonte da Igreja não passa pela denúncia, calúnia ou condenação da realidade. Passa antes por pôr-se a caminho, sabendo que a cadência da marcha faz-se com a cadência do que caminha mais devagar.
A família sustenta o mundo. Ela é um bem decisivo para o futuro do mundo e da Igreja. Cabe, por isso, à Igreja, como afirma o papa Francisco, formar as consciências e não substituí-las. Tendo em conta as várias criticas à Exortação Amoris laetitia, sobretudo a ambiguidade e a falta de assertividade do documento, o Dr. Ambriso recordou que é  necessário, para o efeito, superar o moralismo e o endoutrinamento. Não ao cristianismo “pronto a vestir”, “à media”. Sim ao cristianismo que se concretiza sinodalmente, sempre como proposta, nunca como imposição. Não se pode regular o acompanhamento, não se pode regrar o discernimento, nem se pode obrigar à integração. 
Se a Igreja se tornar lanterna, isto é, se se decidir pôr-se a caminho com as pessoas, descentrando-se das suas certezas e seguranças, saindo ao encontro delas, há de iluminar as sombras concretas dessas pessoas, para as ajudar a discernir e a tomar opções. Por isso, não há dúvida no caminho proposto pelo Papa Francisco. Ele é bem claro: a Igreja é chamada a acompanhar, a ajudar a discernir e a integrar, segundo a misericórdia de Deus. Tudo isto não é algo que se faça à pressa... Acompanhar, discernir e integrar é um processo gradual... muitas vezes lento... pode durar a vida inteira... esta gradualidade é a capacidade de fazer caminho, passando do imperfeito ao perfeito como horizonte. Daí a afirmação: o casamento mesmo que não seja ainda celebrado sacramentalmente é também expressão de amor. Por sua vez, o casamento cristão apura o casamento civil, dá-lhe densidade, dá-lhe sentido e sabor, tal qual o sal na comida. Ou seja, a imperfeição não condiciona nem limita o caminho.

Esta jornada decorreu no Centro pastoral de Santo Adrião, no dia 4 de Fevereiro, das 14h30 às 18h45. Marcaram presença cerca de 350 pessoas, não só das paróquias organizadoras, assim como de outras paróquias do arciprestado de Vila Nova de Famalicão, de Guimarães, Póvoa de Varzim e Braga.

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