Um ano que termina… uma vida que se renova...

Mais um ano que termina…e o que é que mudou?
A guerra é uma realidade dos nossos dias, o sofrimento continua a imperar num mundo que parece cada vez mais cruel, as populações são obrigadas a migrar, gerando uma devastação enorme e cruel, a corrupção mina e empobrece diversos países, a exploração e escravidão humana aumenta, a intolerância também cresce nas redes sociais e entre os jovens e, até, na nossa pacata sociedade esta está cada vez mais presente. Apesar da facilidade de acesso das pessoas à informação, da facilidade de comunicação entre elas e destas serem cada vez mais instruídas e provavelmente mais conscientes…, podemos elencar uma série de acontecimentos mundiais, anuais, diários e locais (só nossos), que nos desumanizam e nos distanciam da tolerância, da paz, da justiça, da solidariedade, do acolhimento, do amor e de todos os valores que se anseiam e sonham para todo o mundo e para toda a humanidade.
Mas, visualizando todos os acontecimentos deste ano que fragilizaram a humanidade, que marcaram e agitaram a nossa pequena realidade, podemos concluir que estes não se revestiram, somente, de factos maus ou menos bons. 
Todos constatamos e presenciamos, em tempos muito próximos do Natal, o crescimento acentuado de iniciativas e atividades de solidariedade para com os mais frágeis e os mais desfavorecidos, abrangendo diversas instituições e envolvendo praticamente toda a população. Todos ficamos mais solidários e mais atentos aos outros! Por isso, ouvimos muitas pessoas desabafar que “deveria ser sempre Natal!”.
 
No que concerne à Igreja, o Papa Francisco consagrou um ano Santo à Misericórdia, que já findou, mas que levou muita gente a olhar para o seu interior, para o seu coração e a mudar a sua forma de pensar sobre a misericórdia.
O Papa também publicou uma exortação Amoris Laetitia, a Alegria do Amor, um documento sobre a alegria do amor, um amor que tem a sua expressão máxima na Família. Esta exortação fala-nos do discernimento e do acolhimento das pessoas que vivem mais afastadas da Igreja (pela sua situação familiar). Também fala-nos da vida em casal, da educação dos filhos, da preparação para o casamento, permitindo-nos um melhor conhecimento da família. Esta exortação foi bem acolhida pelos crentes e não-crentes, aproximou mais pessoas da igreja, mas salienta-se que, para alguns ficou um pouco aquém das expetativas criadas em torno de questões fraturantes.

Francisco salienta na sua mensagem para a celebração do 50º dia Mundial da Paz, escrita no dia oito de dezembro passado, que a Alegria do Amor “constitui o cadinho indispensável no qual cônjuges, pais e filhos, irmãos e irmãs aprendem a comunicar e a cuidar uns dos outros desinteressadamente e onde os atritos, ou mesmo os conflitos, devem ser superados, não pela força, mas com o diálogo, o respeito, a busca do bem do outro, a misericórdia e o perdão. A partir da família, a alegria do amor propaga-se pelo mundo, irradiando para toda a sociedade. Aliás, uma ética de fraternidade e coexistência pacífica entre as pessoas e entre os povos não se pode basear na lógica do medo, da violência e do fechamento, mas na responsabilidade, no respeito e no diálogo sincero“.
Também nesta mensagem faz-nos um convite, desafiando-nos a fazer da “não-violência ativa o nosso estilo de vida”. Elucidando-nos que “a construção da paz por meio da não-violência ativa é um elemento necessário e coerente com os esforços contínuos da Igreja para limitar o uso da força através das normas morais, mediante a sua participação nos trabalhos das instituições internacionais e graças à competente contribuição de muitos cristãos para a elaboração da legislação a todos os níveis. O próprio Jesus nos oferece um «manual» desta estratégia de construção da paz no chamado Sermão da Montanha.”
 Acrescenta mais um pouco de clareza e alguma esperança e, diz-nos que “este é um programa e um desafio também para os líderes políticos e religiosos, para os responsáveis das instituições internacionais e os dirigentes das empresas e dos meios de comunicação social de todo o mundo: aplicar as Bem-aventuranças na forma como exercem as suas responsabilidades. É um desafio a construir a sociedade, a comunidade ou a empresa de que são responsáveis com o estilo dos obreiros da paz; a dar provas de misericórdia, recusando-se a descartar as pessoas, danificar o meio ambiente e querer vencer a todo o custo.”
Vai um pouco mais longe, indicando-nos que o “agir desta forma significa escolher a solidariedade como estilo para fazer a história e construir a amizade social. A não-violência ativa é uma forma de mostrar que a unidade é, verdadeiramente, mais forte e fecunda do que o conflito. No mundo, tudo está intimamente ligado. Claro, é possível que as diferenças gerem atritos: enfrentemo-los de forma construtiva e não-violenta, de modo que «as tensões e os opostos [possam] alcançar uma unidade multifacetada que gera nova vida», conservando «as preciosas potencialidades das polaridades em contraste»
 Porque “Todos desejamos a paz”, crentes e não-crentes, somos aliciados a construir um mundo melhor, mais fraterno, “cuidando da casa comum”, seguindo o mesmo caminho que nos leva à paz, segundo um estilo de vida com base na “não-violência ativa”, com gestos diários, a partir do nosso lar, da nossa família, para a nossa família e para todas as famílias do mundo.
 

Feliz 2017!

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